3 de novembro de 2012

A comida japonesa e os meus 15 anos...

Lá vou eu, para mais uma aventura gastronômica!
É aniversário de um amigo, resolvemos comemorar em um restaurante japonês. 
Ups, eu nunca fui num japonês, nem sei como se come, ouvi dizer que não é com garfo, é de palitinhos, será que consigo?
Pesquiso no pai da internet! Milhões de fotos coloridinhas, os peixes crus parecem até que apetitosos, e diz aqui que é super saudável. Ok, to fazendo a linha saudável ultimamente mesmo, eu topo!
O que vou vestir pra ocasião? É aniversário, tem que ser algo festivo, porém, é num restaurante, algo mais sóbrio...
Opto por um pretinho de alfaiataria, e pra não ficar muito básico escolho uma sapatilha vermelhinha com uns pequenos contos em dourado na lateral.
Faço uma maquiagem mais noite, mas nada vivo! 
Coloco um batom vermelho!
Ah e uma bolsa razoavelmente grande. Claro, vai que eu detesto comer o pão do japa, vai que eu tenho que fazer a linha de antenada que come de tudo? Pelo menos terei uma bolsa grande pra esconder o que eu não conseguir comer, arf que derrota!
Nós mulheres, deveríamos experimentar de tudo um pouco nessa vida, mas tudo sozinhas, ou ao lado de amigas, mas amigas de verdade. Daquelas que vão entender se você fizer cara de nojinho para o bichinho gosmento que sai da barriga da mamãe alien!
Enfim, montada, uma roupa bonitinha, casual porém fina, um sapatinho confortável, nada muito chamativo e nem sóbria demais!
Estou linda, lá vou eu, entro no carro de um amigo, aquele, justamente aquele, o mais gato, o mais fofo, o que eu caio de amores quando vejo, justo ele vem me buscar!
Pronto, cadê a confiança? Cadê a mulher despojada que escolhe bem o que vai vestir, que pesquisa tudo sobre o que vai comer, que sabe muito bem o que ta fazendo?
Ela se desmonta ao ver aquele menino super lindo, buzinando em sua porta!
Treme dos pés a cabeça!
Oi, não sabia que era você que vinha me buscar...
Ele estranha, mas diz que fez questão de levá-la.
Ih melou tudo, vou ter que comer aquela gororoba todinha, e sorrindo, ao lado dele, imagina se vou fazer papel de desatualizada, de quem não gosta do que é diferente, justo ao lado de quem? dele que tanto fala de viagens, que tanto conta de suas experiências gastronômicas...
Lembro-me bem dele me contando como foi comer escorpiões na china, comidas super apimentadas na índia.
Bom, ta na chuva é pra se molhar. - Vamos?
Ele solta um leve sorriso de lado, eu (óbvio) fico vermelha.
Chegando no restaurante, eu me sinto mais tranquila, tudo limpo, calmo, e sem um grande excesso de informações.
Mas o que é isso? As pessoas tiram o sapato pra entrar? ai meu deus, será que estou com chulé? Será que minha unha ta bem feita, faz mais de uma semana que não faço. Jura que eu demorei um tempão pra escolher esse sapatinho e vou ter que tirar ele?
Tiro timidamente as minhas sapatilhas super gracinhas já com uma cara de quem comeu e não gostou.
Sentar no chão? hum, isso me agrada, a gente pode se sentir mais em casa!
Limpo as minhas mãos no paninho quente, seguindo o que os outros na mesa fazem, que gostoso!
O meu amigo senta-se ao meu lado, todo despojado, cabelo desgrenhado, nem usa o paninho pra limpar as mãos, que nojo. Mas mesmo assim ele continua sendo lindo!
Que olhos, que sorriso!
Chega o primeiro barco. Que graça, a comida vem num barcão enorme, cheio de coisinhas coloridas, uma saladinha pra complementar, uns molhos, hummm esse eu conheço, e adoro! 
Olha tem até na versão light!
- Quer o seu hashi com ou sem elástico?
- Unh? Do que será que ele ta falando?
Alguns pedem sem elástico, outros com, na dúvida pedi assim meio escondida um de cada!
Discretamente vou conversando e seguindo tudo que os outros fazem.
Coloco o shoyu devagar e esqueço ele aí, vou bebericando uma água com gás e conversando.
Quando de repente ele me questiona: 
- Não vai comer não? É a sua primeira vez não é? Quer que eu te ensine?
Ah meu deus, morri! Além de lindo é super educado e prestativo!
Aceitei a ajuda, a essa altura eu devia estar com uma cara de medo que provavelmente paralisou a mesa inteira.
Ele me ensina a pegar o hashi, sim, o sem elástico. 
Pede para eu comer um sashimi de salmão primeiro, para ver se me adapto à textura do peixe.
Sim, na comida japonesa, você não vai estranhar o gosto, vai estranhar a textura, e muito!
Delicadamente ele coloca um pedaço pequeno de salmão em minha boca... 
Iecat que coisa escorregadia. Mastigo, faço um sorriso que com certeza era nítido que estava detestando!
Ele ri, que riso doce! To encantada!
Ele me diz: - Olha, a primeira impressão da comida japonesa nunca é a que fica, tenta comer mais um pouco, tenho certeza que mudará de opinião.
E como todo rapaz gentil, ele me serve um pequeno prato com um pouco de cada do que havia no enorme barco super decorado!
Mais uma vez me explica como se come com o hashi e me conta das suas peças favoritas naquela mesa. Sim, em comida japonesa chamamos cada parte da comida de peça.
Experimento mais um, e mais outro, sem muito sucesso. 
Ele me dá a dica de comer o gengibre entre as trocas de peixes e colocar um pouco de raiz forte dentro do meu shoyu para dar um toque picante.
Nossa, quanta diferença uma raiz forte faz num prato, que delícia!
Começo a degustar verdadeiramente, começo a comer uma coisa de cada, tudo molhado naquele líquido salgado e agora picante.
Sinto a textura dos peixes crus junto aos molhos, uau, que experiência dos deuses!
Acho que no final das contas eu comi mais que todo mundo alí.
E ele só sorria, encantado com meu jeito moleca de aprender algo novo.
Pedimos a conta, um susto. - Nossa como comida japonesa é caro! Mas vale a pena!
Paguei, saímos, encontrei meu belo sapatinho no meio de tantos e fomos embora.
Tivemos uma conversa bem agradável na volta pra casa.
Em vez de parar na porta da minha casa, ele pára na porta da casa do vizinho. 
- É alí na frente
- Eu sei, mas se eu parar lá, seu pai pode ver e reclamar.
Ok, ele vai me beijar! Ai meu deus, será que fiz tudo certo dessa vez?
Consegui conquistar o rapaz mais belo da minha turma? Aquele, justo aquele que de quem tanto morro de amores?
E sim, um beijo, de leve, depois um mais intenso, e eu simplesmente travo no meio do beijo.
- Ta, adorei a noite com você, mas agora eu preciso entrar, podemos nos falar amanhã, talvez?
Ele estranha, mas concorda em ficar apenas com o meu número de telefone.
Mais um beijinho, dessa vez um selinho rápido e eu super sem graça saio do carro.
Ele pergunta: - Me perdoa, mas eu fiz algo de errado?
Solto uma risada, enfim relaxo.
- Não querido, é só que eu me lembrei do que comemos anteriormente, e me deu uma sensação estranha, sei lá, medo do cheiro de maresia sabe?
Hahahahahahaha ele solta uma enorme e gostosa gargalhada. 
- Entendi, misturar peixe gelado com língua quente não lhe pareceu cair bem na mesma noite não é?
Apenas sorrio e jogo um beijinho de longe!
Entro em casa!
Putz, justo no dia que vou experimentar a coisa mais estranha da minha vida (mentira, já comi coisas mais difíceis de engolir) eu dou a sorte ou o azar de ser beijada pelo cara que tanto desejei!
Arf, hoje não foi meu dia!

Hoje, eu saí com uns amigos para comer comida japonesa, virou rotina, e aliás, que rotina deliciosa!
Tem mais de 10 anos que comi pela primeira vez, mas eu nunca vou me esquecer desse dia.
E pensar que com 15 anos eu ainda era super preocupada em parecer antenada, que eu era tímida na frente dos rapazes, e que eu terminei o dia achando que nada tinha dado certo!
Eu era feliz e não sabia! hahahahaha