20 de outubro de 2015

Uma foto banal um dia comum...

A verdade é que na França faz muito frio por um período grande...
São mais ou menos 8 meses de "outono gelado, inverno de verdade e primavera fria".
O que faz com que a gente fique muito mais tempo do lado de dentro do que do lado de fora.
Tem suas vantagens, na Europa assistimos muito mais filmes, recebemos muito mais as pessoas na nossa casa, e por ter muito tempo de frio, a gente aproveita de verdade quando faz calor!
Essa foto foi tirada no dia 19 de abril de 2015. Era um sábado de muita chuva e o frio ainda nos atormentava, estávamos assistindo um filme na casa de um amigo, resolvi tirar essa foto pra mandar para uma amiga que não pôde vir. O que não tinha percebido é que o ator na cena também estava com os pés para o alto. Foi engraçado quando vi a foto no meu telefone (sim, é uma foto tirada do meu telefone).
Não é uma grande foto, nem um grande momento da minha vida, porém representa um pouco do meu cotidiano no inverno daqui!


12 de outubro de 2015

A noite das 1001 estrelas cadentes...

Ontem conversando com o Cédric sobre os dias mágicos das nossas vidas eu me lembrei de um dia que acho que nunca contei por aqui...
A noite das estrelas cadentes.
Era pra ser uma noite qualquer, fomos na casa de uns amigos que moram no campo em uma minúscula cidade chamada Sigonce na Provence Francesa.
A noite começou com jantar ao ar livre. Uma mesa redonda (sem cadeiras) com pizzas e quiches servidas à mão e um bom vinho rosé da região.
Cédric e eu não conhecíamos muito bem os outros convidados, aos poucos fomos conversando com um e com outro mas nos demos conta de que não nos enquadrávamos nem um pouco com o estilo de vida e de conversa deles.
Nos sentimos um pouco isolados e acho que foi isso que nos fez ficar tão próximos um do outro nessa noite.
A noite chegou tarde, devia ser umas 22:30 quando o sol se pôs!
Isso é algo que eu ADORO na França, no verão o sol se põe tarde e podemos aproveitar muito do nosso "dia".
Em compensação o verão não impede que a noite seja fria.
Fanny, nossa anfitriã entrou em casa e voltou com cobertores, almofadas, e outros tecidos pra forrar o chão...
Fizemos uma meia roda e um dos amigos dela ensaiou umas músicas no violão.
O espetáculo começou por volta de 23:00 horas.
Vimos a primeira estrela cadente e todos nós nos deitamos para ver melhor.
De pouco em pouco as estrelas começaram a cair...
Parecia uma dança, às vezes 3 ou 4 estrelas juntas, às vezes uma apenas, e elas estavam em todos os cantos visíveis do céu!
Não tinha um pedaço de céu que não tivesse uma estrela caindo em um momento da noite.
Não dava tempo de fazer pedidos!
Quando víamos a mesma estrela cadente juntos, Cédric me abraçava forte, era como se nosso pedido estivesse sendo realizado lá, naquele instante mesmo.
Foi um dos momentos mais mágicos e essenciais da minha vida...
Foi lá que eu percebi o quanto é importante se concentrar no instante presente, e não deixar nunca de observar tudo de belo ao nosso redor...
Coisas mágicas podem acontecer quando menos esperamos...


8 de outubro de 2015

Um ano de saudade...

A um ano e alguns dias atrás eu tomava uma decisão complicada...
A decisão de me casar no Brasil o mais rápido possível para ter meu avô comigo na cerimônia!
Apesar de ter sido uma boa decisão, ela foi tomada com muitas indecisões...
Dúvidas se conseguiríamos ter dinheiro suficiente, dúvidas se conseguiríamos realizar nosso sonho acelerando 6 meses da data prevista, se conseguiríamos convidar todos aqueles que nos são caros...
Mas foi uma decisão tomada e nada faria mudar ela.
Decidimos acelerar o casamento brasileiro porque chegamos a conclusão que meu avô estava muito velhinho para viajar. E que o meu casamento seria a última viagem dele...
Como somos tolos acreditando que as pessoas são obrigadas a nos esperar.
A exatamente um ano atrás meu avô deixou a vida dele na terra.
Foi com o coração cheio de paz e uma sabedoria de 93 anos de vida muito bem vivida.
À um ano eu recebia a ligação da minha mãe, eu estava no trabalho e não pude me conter em lágrimas, assim na frente de todos os clientes. Eu estava tão longe...  Uma amiga me trouxe pra casa. Recuperei um pouco de forças e peguei meu carro.Chegando no aeroporto eu descobri que não tinha mais voo para o mesmo dia, e que o do dia seguinte chegaria tarde demais... E foi ali, sentada no chão, no meio de um aeroporto lotado que eu me dei conta de que não conseguiria me despedir dele. Não foi uma questão de escolha, o destino tinha decidido por si só que eu não voltaria ao Brasil naquele dia. 
Não sei quanto tempo eu fiquei naquele canto do hall do aeroporto, talvez duas horas ou quem sabe mais. 
Coloquei na minha cabeça que tinha sido melhor assim, me despedir dele ainda em vida, com seu sorriso largo, suas teimosias e seus últimos momentos "esquentando o sol".
Meu avô foi alguém importante, não para a sociedade, mas para nós dentro de casa.Um exemplo de como viver bem, trabalhou 40 anos da sua vida numa siderúrgica, foi jogador de futebol profissional do Tupi (hoje na 3ª divisão). Viveu 43 anos de aposentadoria. Viveu 59 anos de casamento.
Aposentou-se jovem e a partir desse dia ele dedicou-se à pesca, à ajudar minha avó nos afazeres de casa e à conversar com as crianças que passavam na calçada dele.
Juntou dinheiro por mais de 50 anos pra poder comprar a casinha dele.
Comprou um ano antes de morrer.
Nunca tinha visto meu avô tão feliz como quando ele comprou essa casa. A casa onde eles viveram por mais de 40 anos. 
Ia lá pra casa dos meus pais passar o verão, quando foi ficando mais velho passou a ir pra lá no inverno também.
Era turrão, e teimoso que só se vendo. Brigou comigo por muito tempo pois eu morava com um cara e não era casada com ele. Quando soube que eu tinha me separado ele brigou pois tinha medo que eu não encontrasse alguém que me amasse sabendo que eu não era mais virgem (tão bonitinho).
Brigou de novo quando eu tomei a decisão de vir embora pra França (e ainda não era casada). Brigou uma última vez quando soube que eu tinha me casado na França e não no Brasil.
E foi por isso que eu tomei a decisão de me casar no Brasil, com o consentimento dele.
Me lembro quando liguei pra casa deles pra contar que o casamento aconteceria em fevereiro de 2015 e que ele não teria mais motivos para se preocupar com a neta dele. Ele me disse que estava feliz, e que finalmente eu tinha entrado no "caminho certo". Mas ao desligar ele contou pra minha avó que fevereiro ainda estava muito longe e que a respiração dele não deixaria ele chegar até lá.
Ele também disse a ela que tudo estava certo e que ele poderia partir, que minha avó não estava desamparada financeiramente, que os filhos dele estavam encaminhados e que os netos também. 
Foi embora em paz...
Me lembro que um ano antes ele esteve internado no hospital. O mesmo problema de respiração. Meu avô fumou durante 20 anos da sua vida. Como eu tenho muita insônia, eu fui pra lá ficar com ele à noite. Passei noites em claro tomando conta da respiração dele para que ele pudesse dormir. Nesse dia criamos um laço muito forte entre nós. Um laço de confiança!
Quando soube que ele tinha partido e que ele tinha ficado uma semana no hospital (ninguém me avisou para não me preocupar), eu me culpei... Me culpei por não ter ido cuidar dele à noite, me culpei por estar longe...
Hoje não me culpo mais. Sei que ele foi feliz tanto na vida quanto na morte e que ele não tinha mais medo de morrer! Ele tinha Jésus (como ele chamava) e meu irmão pra cuidar dele lá em cima.
O casamento não foi anulado, e o motivo continuou sendo ele!
Me casei em lágrimas, mas com o coração em paz e cheio de boas lembranças!

7 de outubro de 2015

Projeto novo de novo...

Bom, depois de um tempo (uns anos por assim dizer) sem inspiração (e uma boa razão para tal) eu estou de volta com um pequeno projeto em mente...
Pra começar eu vou explicar a vocês a razão da minha "falta de inspiração" para escrever:
A vida na França não é fácil como todos pensam.
Tudo aqui gira em torno da perfeição e da excelência.
E o meu desafio desde 2013 é me tornar independente do Cédric.
Pra isso eu precisei de tempo, de estudo, de erros e acertos e muita dedicação na língua francesa.
E quando você estuda um outro idioma 24 horas do seu dia, você se perde.
Se perde nas construções de frases, nas conjugações e passa todo o seu tempo tentando se encontrar nesse "novo mundo".
E aí você me pergunta: O que aprender Francês tem a ver com escrever um blog em português?
Então, não existe um link exato, mas a verdade é que todo o meu tempo livre eu uso para ler e escrever em francês e é por isso que eu acabei deixando o português meio de lado.
Com relação a inspiração, não é que eu a perdi, mas eu resolvi direcioná-la por um tempo, na adaptação do meu estilo como fotógrafa sem sair dos padrões franceses.
Foram 2 anos de aprendizado intenso e eu continuo aprendendo a cada dia.
Vou continuar postando aqui as minhas impressões do "velho mundo" e prometo vir com mais frequência.
Mas hoje apresento a vocês um projeto novo que ainda não tem nome...
Esse projeto consiste em postar uma foto e explicar quais foram os meus sentimentos com relação a esse momento e a razão que me fez imortalizar essa cena.
Não vou postar por ordem de foto tirada, nem por local, vou apenas pegar uma foto aleatória e contar pra vocês a "minha versão" da história!

As fotos de hoje foram tiradas nas minhas últimas férias no norte da França, numa região chamada Bretanha.
Estávamos caminhando nas margens da costa do granito rosa, éramos um grupo de amigos de mais ou menos 10 pessoas. 
Essa mulher me fez parar.
O que será que ela está pensando? 
O que faz ela ali sozinha a olhar o horizonte?

Acho que fiquei extasiada pelo menos uns 10 minutos observando-a... 
Por instantes perguntei-me: 
Será que ela está a espera de alguém que está no mar?
Será que ela está meditando? 
Ou será uma estátua realista? Sério, do tempo que eu estive lá eu não vi um mínimo movimento. 
O que será que ela espera? 

Um amor, seus filhos voltarem da escola, a morte...
Meu corpo tremeu quando pensei na morte. 
Tudo era tão belo e harmonioso que eu não acredito que ela pense na morte.
Esse pensamento me fez sair do meu encantamento e foi aí que eu percebi que havia me perdido dos meus amigos.
Peguei minha câmera e fiz rapidamente essas duas fotos.
Antes de sair correndo em busca dos outros eu deixei no portão da casa dela uma flor que tinha colhido minutos antes de chegar a esse lugar.
A flor foi uma forma de agradecimento por esse momento de paz que esta "mulher imóvel" me proporcionou.