12 de março de 2013

As ostras e o dia de Natal


Era natal.
O primeiro natal que ela passava com a família dele!
Além de todas as novas experiências que ela vivia, ela precisava participar de todas as tradições natalinas.
Era difícil explicar para sua futura sogra que ela não simpatizava com as ostras, só o cheiro já incomodava, mas ela não podia dizer não!
Era uma tradição na família deles, e ela tinha que comer!
Aquela coisa gosmenta, com cheiro de peixaria aquela sensação de que aquilo não ia descer bem!
Enfim, compraram as ostras.
Como era tudo muito novo pra ela, novo país, novo idioma, nova cultura, resolveu experimentar!
Decidiu que não teria frescura com nada, afinal de contas, quando é que ela poderia passar por tudo aquilo novamente?
O namorado dizia: - Calma amor, eu sei que você vai gostar! Eu te conheço, é uma delícia!
E ela pensava: - Ai meu Deus, nem dizer que eu não gosto eu não vou poder dizer, vou ter que engolir e fazer cara de paisagem! Arf
E começa o jantar!
Petiscos deliciosos, um aperitivo com gostinho de quero mais! Uma excelente conversa, ok uma tentativa de conversa, com os amigos que passariam aquela noite tão esperada conosco.
Ela até se esqueceu que tinha ostras no cardápio.
Em um determinado momento ela já estava falando em Francês com todo mundo, rindo dos seus erros típicos de uma aprendiz.
Risos pra lá, aperitivo pra cá e a sogra chega com as entradas.
Salmão defumado com um molhinho de creme fraiche e limão siciliano.
Estava impecavelmente servido e o gosto, nossa, dos deuses!
A segunda entrada foi camarão com um molho delicioso de maionese.
- Bom, acho que desistiram das ostras cruas, tomara!
E mal ela pensa e a sogra a pede para ir à cozinha buscar a outra entrada.
Sim, as ostras.
Um prato gigante, com aquelas conchas fechadas , tudo mal disposto, sem nenhum glamour.
Aquele cheiro de peixaria volta a pairar sobre o ambiente.
Mas bom, depois de uns aperitivos, ela já está levemente bêbada e pensa por que não?
O cunhado a ensina a abrir. Até aí tudo bem... O problema é que ela olha ao seu redor e percebe que todos da mesa estão olhando, ansiosos para ver a sua reação.
Ferrou, sobe um calor, depois ela se arrepia toda. Sente mais uma vez o estômago embrulhar com o cheiro de peixaria.
Mas a essa altura, não há o que fazer. Com a ostra na mão, o molho na outra, ela mistura os dois e engole o mais rápido que consegue.
Não pôde definir se era bom ou ruim, foi tão rápido que não deu tempo nem de fazer cara feia.
Enfim todos percebem que a reação dela não foi de todo ruim e voltam aos seus pratos.
O namorado oferece mais um, ela recusa, eles se olham e ele entende que aquilo já foi muito pra uma noite de natal fora de casa.
Ele como sempre atencioso e carinhoso com ela, faz uma brincadeira: - Que bom que você não quer chérie, porque sobra mais pra mim.
Ela sorri aliviada!
Conseguiu passar pela prova do jantar da sogra com tranquilidade.
Mas a verdade é que NUNCA MAIS ela comeu ou comerá uma ostra.
Não pelo gosto, afinal, ela não teve tempo de sentir, mas pela aparência e principalmente, pelo cheiro.