8 de outubro de 2015

Um ano de saudade...

A um ano e alguns dias atrás eu tomava uma decisão complicada...
A decisão de me casar no Brasil o mais rápido possível para ter meu avô comigo na cerimônia!
Apesar de ter sido uma boa decisão, ela foi tomada com muitas indecisões...
Dúvidas se conseguiríamos ter dinheiro suficiente, dúvidas se conseguiríamos realizar nosso sonho acelerando 6 meses da data prevista, se conseguiríamos convidar todos aqueles que nos são caros...
Mas foi uma decisão tomada e nada faria mudar ela.
Decidimos acelerar o casamento brasileiro porque chegamos a conclusão que meu avô estava muito velhinho para viajar. E que o meu casamento seria a última viagem dele...
Como somos tolos acreditando que as pessoas são obrigadas a nos esperar.
A exatamente um ano atrás meu avô deixou a vida dele na terra.
Foi com o coração cheio de paz e uma sabedoria de 93 anos de vida muito bem vivida.
À um ano eu recebia a ligação da minha mãe, eu estava no trabalho e não pude me conter em lágrimas, assim na frente de todos os clientes. Eu estava tão longe...  Uma amiga me trouxe pra casa. Recuperei um pouco de forças e peguei meu carro.Chegando no aeroporto eu descobri que não tinha mais voo para o mesmo dia, e que o do dia seguinte chegaria tarde demais... E foi ali, sentada no chão, no meio de um aeroporto lotado que eu me dei conta de que não conseguiria me despedir dele. Não foi uma questão de escolha, o destino tinha decidido por si só que eu não voltaria ao Brasil naquele dia. 
Não sei quanto tempo eu fiquei naquele canto do hall do aeroporto, talvez duas horas ou quem sabe mais. 
Coloquei na minha cabeça que tinha sido melhor assim, me despedir dele ainda em vida, com seu sorriso largo, suas teimosias e seus últimos momentos "esquentando o sol".
Meu avô foi alguém importante, não para a sociedade, mas para nós dentro de casa.Um exemplo de como viver bem, trabalhou 40 anos da sua vida numa siderúrgica, foi jogador de futebol profissional do Tupi (hoje na 3ª divisão). Viveu 43 anos de aposentadoria. Viveu 59 anos de casamento.
Aposentou-se jovem e a partir desse dia ele dedicou-se à pesca, à ajudar minha avó nos afazeres de casa e à conversar com as crianças que passavam na calçada dele.
Juntou dinheiro por mais de 50 anos pra poder comprar a casinha dele.
Comprou um ano antes de morrer.
Nunca tinha visto meu avô tão feliz como quando ele comprou essa casa. A casa onde eles viveram por mais de 40 anos. 
Ia lá pra casa dos meus pais passar o verão, quando foi ficando mais velho passou a ir pra lá no inverno também.
Era turrão, e teimoso que só se vendo. Brigou comigo por muito tempo pois eu morava com um cara e não era casada com ele. Quando soube que eu tinha me separado ele brigou pois tinha medo que eu não encontrasse alguém que me amasse sabendo que eu não era mais virgem (tão bonitinho).
Brigou de novo quando eu tomei a decisão de vir embora pra França (e ainda não era casada). Brigou uma última vez quando soube que eu tinha me casado na França e não no Brasil.
E foi por isso que eu tomei a decisão de me casar no Brasil, com o consentimento dele.
Me lembro quando liguei pra casa deles pra contar que o casamento aconteceria em fevereiro de 2015 e que ele não teria mais motivos para se preocupar com a neta dele. Ele me disse que estava feliz, e que finalmente eu tinha entrado no "caminho certo". Mas ao desligar ele contou pra minha avó que fevereiro ainda estava muito longe e que a respiração dele não deixaria ele chegar até lá.
Ele também disse a ela que tudo estava certo e que ele poderia partir, que minha avó não estava desamparada financeiramente, que os filhos dele estavam encaminhados e que os netos também. 
Foi embora em paz...
Me lembro que um ano antes ele esteve internado no hospital. O mesmo problema de respiração. Meu avô fumou durante 20 anos da sua vida. Como eu tenho muita insônia, eu fui pra lá ficar com ele à noite. Passei noites em claro tomando conta da respiração dele para que ele pudesse dormir. Nesse dia criamos um laço muito forte entre nós. Um laço de confiança!
Quando soube que ele tinha partido e que ele tinha ficado uma semana no hospital (ninguém me avisou para não me preocupar), eu me culpei... Me culpei por não ter ido cuidar dele à noite, me culpei por estar longe...
Hoje não me culpo mais. Sei que ele foi feliz tanto na vida quanto na morte e que ele não tinha mais medo de morrer! Ele tinha Jésus (como ele chamava) e meu irmão pra cuidar dele lá em cima.
O casamento não foi anulado, e o motivo continuou sendo ele!
Me casei em lágrimas, mas com o coração em paz e cheio de boas lembranças!