10 de dezembro de 2012

A reforma da nova/velha casa

Cá estou.
Toco a campainha, minha querida avó que parece que acaba de sair de um banho de leite de tão branquinha, sua pele tão macia e ao mesmo tempo enrugada, seus cabelos lisos naquele branco meio amarelado de quem não passa mais tinta e nem mais nada a muitos anos... Ela me dá um abraço ansioso  Que delícia!
Ta tudo diferente, e ao mesmo tempo tudo muito familiar!
Meu avô se levanta do sofá, está mais magro, com a feição levemente triste, aliás, triste não, cansado. Dou-lhe um abraço bem apertado, sinto seus frágeis ossos contra meu corpo. Arf que saudade que eu estava deles!
Os móveis continuam os mesmos, mas o resto, ta tudo tão diferente....
Desde que compraram a casa, resolveram reformá-la.
E apesar de muitos terem sido contra, eu fui 100% a favor dessa compra.
Meus avós viveram por mais de 30 anos nessa mesma casa, uma casa antiga, comprida com um corredor que corta todos os cômodos e nas laterais, os quartos, um pequeno e rústico jardim de inverno, onde minha avó sempre cultivou suas orquídeas e a cozinha. O banheiro fica nos fundos, próxima a entrada do quintal de trás.
E agora, ele com 90 anos e ela com 80, finalmente conseguiram comprar a casa onde por tantos anos viveram de aluguel.
E decidiram reformá-la.
Não que eu não tenho aprovado a idéia, mas hoje, quando entrei na "nova" casa, eu me senti um pouco estranha, como se não fosse a mesma sabe?
Senti falta do teto alto que estava se despedaçando e vira e mexe caía uma poeira em cima das camas, senti falta das enormes portas que se dividiam em 2 ao abrir pelo meio, e seu vitral em cima.
Senti falta do piso de taco, que fazia aquele barulho super chato e que acordava a todos da casa quando alguém queria ir no banheiro no meio da madrugada.
A pequena pia do banheiro se transformara em um armário moderninho...
E o quintal acimentando onde tanto brinquei, agora todo de piso, com uma escadinha pra parte superior, que antes era de terra, onde eu e meu avô jogávamos as sementes de laranja e ele sempre dizia: - Um dia a gente não vai mais precisar comprar laranjas no supermercado.
Desci, deitei no quarto que eu habitualmente uso quando estou lá, e fechei meus olhos.
De repente alguém abre a porta e eu ainda de olhos fechados imagino as duas finas portas de madeira se abrindo e do meio delas aparecendo alguém. Abro meus olhos e quase que como um susto eu vejo meu pai, adentrando o quarto pela nova porta de madeira, larga, baixa e que abre na lateral como as portas atuais.
Me sinto estranha.
Não é mais a casa da minha avó...
Apesar de agora finalmente ser de verdade a casa da minha avó, eu por alguma razão estranha, não me senti em casa como antigamente.
Não comentei nada com ninguém da família, sei lá, estão todos tão felizes!
Senti a necessidade de sair de lá... Me sentia uma estranha no ninho.
Fui na lanchonete do meu padrinho, onde estava lá minha avó sentadinha colocando o "molho especial da casa" nos potinhos que vão pras mesas.
Dei um beijo em todos e ouvi um pouco da conversa...
Quando de repente minha avó solta a seguinte frase: - Se eu fosse morrer hoje, eu morreria sendo a pessoa mais feliz desse mundo. Tenho minha casa própria, está exatamente do jeito que eu sempre quis, meus filhos estão aqui, ao meu lado, meu neto João me espera no céu, está tudo no seu devido lugar.

Aquelas palavras ecoaram como um banho de água quente, bem quentinha no meu coração...
Eu me senti em casa novamente!
Voltei, encontrei meu avô sentado na sala vendo futebol na televisão e ouvindo outro jogo de futebol em seu radinho de pilhas (que é mais antigo que eu), passei pela sala de tv, onde todas as fotos estavam dispostas do mesmo jeitinho de sempre, e simplesmente me encantei com as novas portas, o novo piso, o novo teto e até mesmo com o banheiro modernoso!
Minha avó me fez perceber, que não são as paredes ou os móveis, ou mesmo o barulho do chão quando andamos que nos faz sentir em casa, e sim as pessoas que alí estão, os costumes que não mudaram, as lembranças através das fotos e principalmente o amor.
O amor de uma família que sempre lutou muito, e que sempre foi muito feliz!